O atual sistema de transmissão da força de tração na bicicleta sempre foi um dos maiores motivos de preocupação dos cicloturistas durante as viagens. Costumamos pensar na corrente de transmissão como uma simples peça da bicicleta, e muitas vezes nos esquecemos que ela é composta, na verdade, por centenas de pequenas pecinhas fixas umas nas outras apenas por pressão.
Por isso, o uso das marchas e da corrente deve ser muito cuidadoso. Além da sujeira e da falta de lubrificação, um dos maiores erros que podemos cometer é o que se chama de corrente cruzada. As correntes de transmissão são feitas para funcionarem ao longo de uma linha reta. Isto é, quando aplicamos uma tração, todos os elos devem estar o mais alinhado possível. Quando ocorre um desalinhamento muito grande destes elos, aparecem forças laterais que diminuem bastante a vida útil da corrente e podem até mesmo causar uma ruptura.
Exemplo de uma combinação errada
Foto: Rodrigo Telles
A regra geral é a seguinte. A coroa do meio (na frente) pode ser combinada com qualquer uma das catracas (atrás), evitando-se as das extremidades. Com a coroa maior é bom utilizar somente as quatro catracas menores, que ficam mais ou menos alinhadas com ela. Da mesma maneira, com a coroa menor, utiliza-se apenas as quatro catracas maiores. Desta forma evita-se a situação que está ilustrada na figura. Esta regra pode ser usada tanto para catracas de 7 como de 9 velocidades.
Detalhe do ângulo formado pelos elos
Foto: Rodrigo Telles
Note que fazendo isso você não está perdendo nenhuma relação de marchas de que a sua bicicleta dispõe, pois as combinações que estamos chamando de ‘proibidas’ produzem relações equivalentes às conseguidas com o uso de outra combinação.
Um outro problema parecido com este e que também merece bastante atenção, acontece no momento das trocas de marcha. Quando trocamos de marcha, a corrente que está girando numa das rodas dentadas, tem que se inclinar fortemente para engrenar na roda dentada ao lado, seja através do câmbio dianteiro ou traseiro. Não há nenhum problema, caso esta transição ocorra suavemente.
Porém, se aplicarmos uma tração neste momento, estaremos aplicando as tais forças laterais nos elos que estão envolvidos na transição. Por isso, sempre que mudamos de marcha, devemos girar os pedais livremente sem tração. De maneira prática, podemos dizer que temos que aliviar a força dos pedais para que a mudança de marcha seja macia.
Para isto o ciclista tem sempre que estar atento e prever com alguns segundos de antecedência a necessidade da troca. Por exemplo, se você entrou de repente numa subida, vai ter que reduzir a marcha. Não espere o último momento, pois aí você não vai mais conseguir aliviar a força para fazer a troca. Se você errou o momento da troca, não excite em parar, saltar da bicicleta e trocar a marcha com ela parada, ou mesmo empurrá-la até o topo da subida.
Estas dicas se tornam especialmente importantes se você estiver viajando com a bicicleta carregada. O peso, principalmente nas subidas vai acentuar esses problemas.
O sistema de transmissão de forças ainda tem muito que evoluir (quem sabe para o sistema de eixo como já se usa em algumas bicicletas). Mas enquanto isso, vamos cuidando bem das nossas delicadas correntes, porque elas ainda tem muito o que girar para nos levar a todos os lugares fantásticos que planejamos conhecer.